quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Contratos de casamento

Prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te, respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe. Muito bem! Mas... seria possível adicionarem cláusulas de rescisão a estes contratos?

Imagine o caro leitor que acabou de celebrar matrimónio, casou com a Adriana Lima, uma supermodelo bem disposta e simpática. Tudo bem. A escolha entende-se: o facto de ser bonita e supersensual significa que tem bons genes para transmitir, que é saudável e não terá de se preocupar em acompanhá-la ao hospital 1 vez por mês porque teve alguma trombose, que nunca terá problemas de impotência (por razões óbvias, if you know what I mean! Ahh! Sempre sonhei usar esta expressão!), que todos os minutos que fica longe dela, por ser tão bela, são uma punição e no fim do dia só quer regressar a casa para voltar a vê-la! Sabe como é? Se não sabe, é porque possivelmente tem um casamento por conveniência, mas faça um esforço, um casamento por amor é assim, ok?

Agora imagine que ela começa a enfardar como uma louca. O desfile da Victoria's Secret foi abolido, o que significa que muitas das modelos foram para o desemprego e ela não foi exceção; tal como aconteceria com as touradas caso também fossem abolidas: muitos touros deixariam de ser criados (infelizmente, e apesar de não concordar com touradas, há que dar razão aos maluquinhos e, eventualmente, considerar touradas sem espetos!). E ao fim de alguns dias a, agora, Adrianona começa a fazer inveja a uma baleia-sumo e se antes provocava desejo nos homens agora provoca desejo nos baleeiros! Mas tenham calma, ela não é (oficialmente) uma baleia, ok? Depois, eventualmente, o vício do açúcar também faz das suas, e ela fica hiperativa, enfim, muda completamente a sua personalidade, muito pior do que os estragos que a menstruação faz, e transforma-se num urso com diarreia! Ora, o que eu pergunto é: tendo em conta a premissa que levou ao matrimónio, não se justificariam cláusulas de rescisão? Sejamos sinceros, se alguém comprar um bolo-rei sem frutos secos, queixa-se, porque não queixarmo-nos se o "produto" com o qual nos casámos acabou de anular a sua garantia antes dos 2 anos? É que uma coisa é ficar doente sabe-se lá com o quê e porquê, outra é ficar doente porque se quer... e se quer ser influencer de fast food ou um guia espiritual de elefantes ou bisontes... ou simplesmente porque estamo-nos a cagar para a saúde ou lá o que isso é...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Casar com o emprego

Encontrar um emprego é (quase) como encontrar o amor.
Ahh! Encontrar o tal! Aquele emprego que pague bem, que tenha colegas e patrões fixes e cujo trabalho seja, também ele, fixe! Desde a candidatura em que prometemos trabalhar para a relação laboral da melhor forma que soubermos, passando pela entrevista em que pode haver aquele clique, aquela química especial. Apaixonamo-nos à primeira vista pelas atividades que se realizam naquele escritório e as regalias associadas ao salário fazem-nos fantasiar com o que poderá aí vir; também os patrões ficam enamorados à primeira vista com a possibilidade da nossa paixão pelo ofício nos pôr a trabalhar para lá das 8 horas diárias (ou 7 para os funcionários públicos). Depois, por entre vários candidatos, somos aceites! O nosso perfil e o primeiro encontro superaram todos os outros! Fomos escolhidos! O namoro, oficial, porque aqui não há pegas nem pegos(!), é celebrado com um comprometimento por 6 meses a termo certo. Se a coisa correr bem, segue-se o casamento a termo (obviamente) incerto; até aqui já tínhamos prometido ser fiéis ao emprego e ele fez o mesmo por nós, só que agora começa a partilha de bens, eventualmente começa-se também a planear ter filhos que podem ser estagiários adotados ou universitários recém-formados.  Prometemos exclusividade no lucro e na dívida. Seguem-se as primeiras luas-de-mel em feiras de empresas ou em turismo científico. As prendas também ficam mais valiosas, se antes um mero subsídio de refeição bastava, agora já se exigem cabazes de Natal e bónus! Nas primeiras festas de família vislumbramos, pela primeira vez, os nossos avós e bisavós que, encharcados com álcool, fazem de bobos da corte, num acontecimento que, tal como um eclipse solar, é raro e belo... e pode cegar. Mas é aqui que entendemos: fazemos parte da família!
No entanto, nem tudo são rosas... A certo momento, alguns colaboradores começam a encontrarem-se com outros empregadores... Como qualquer traição, sempre às escondidas. Ora entram mais tarde, ora saem mais cedo... "o que se passa?"... "nada"... Devem estar à procura de outro emprego que pague melhor? Mas prometeram ser fiéis, bolas! Será um emprego nearshore mais musculado? Será um emprego noutro país mais exótico e sensual? E depois... Sim... Depois dizem-nos de repente: está tudo acabado (com um pré-aviso de 1 ou 2 meses)! Não és tu, sou eu... que quero ganhar mais ou que quero ver outros colegas... Mas... eu posso mudar... posso-te dar ainda mais benefícios como sushi às quintas-feiras ou iogurtes gratuitos ou... um aumento salarial... Não entendes... sinto que já não me dás a atenção que um profissional como eu mereço... há quanto tempo não me promoves? E aquelas tarefas que, quando começámos, me punham o coração a mil? Onde estão? Agora é só reuniões, papelada e aturar clientes! Não! Não aguento mais! É melhor assim... E segue-se o divórcio no qual o empregador fica com a maioria dos bens... a separação da nova, e agora velha, família... e... adeus! Até já(?)!
E, assim, o colaborador parte para outro emprego onde, eventualmente, irá partir mais corações laborais...