Viajar!

Antigamente é que era! Peço desculpa, mas tenho de começar como um velho ressabiado, é verdade, antigamente, viajar é que era d'homem! Quem quisesse ir à América, tinha de navegar durante meses e evitar o falecimento por tempestades ou ira de Adamastor ou disenteria conjugada com escorbuto. E quem quisesse dar a volta ao mundo? Bem, digamos que não bastavam 15 dias de férias, aliás, talvez o melhor fosse mesmo ter a profissão de "viajante"! Agora, sejamos sinceros: ser viajante no fundo é... não fazer um corno! Ah e tal, conhecemos culturas e cenas, ok, mas o que contribuis para a sociedade? Portanto, turista, só por si, era inconcebível, daí que tinham de inventar outras profissões como "explorador" ou "biólogo" ou "comerciante", ok, agora sim, já tinham boas desculpas para passar a vida a viajar!
E atenção, antigamente (lá está!), turismo era praticamente emigração! Sim, podia ser apenas conhecer outras culturas e tal mas, não existiam hotéis de 5 estrelas nem guias nem programas nem autocarros nem nada. Enfim, entenderam, era realmente d' Homem!

E hoje? Vamos dormitar na natureza? Vamos... dentro de um parque de campismo! Vamos integrar-nos na cultura, naquela cultura de comer coisas que nos podem implodir o esófago ou cujas especiarias disfarçam o cheiro dos dejetos que navegam livremente nos rios? Não... vamos antes optar por aquele restaurante daquela cadeia mundialmente conhecida. Vamos conhecer as histórias de vida dos habitantes, das gentes e da sua cultura, daquela cultura de agricultura de subsistência à base de cocaína ou aquelas danças esquisitas que não lembram a ninguém? Hmm... nah... vamos ver os monumentos que os nossos antepassados construíram quando os colonizaram e tal. Ah bom! E tudo isto, tendo em conta que envolve percorrer milhares de quilómetros, tem um enorme custo, certo? Heh, nem por isso, por poucas centenas de euros é possível apanhar um grande avião e poluir só numa viagem tudo o que poluímos durante 1 ano. E, para quê? Para conhecer a cultura... a nossa cultura... aquela que foi para lá... 

Agora digam-me lá outra vez: porque é que raio viajamos?