Querido diário, ontem andei de avião e uma hospedeira embebida em cavalheirismo exacerbado, entregou em primeiro lugar o tabuleiro com a preciosa refeição aviónica, a uma senhora que estava no meio (numa fila de 3). Ora, segundo o artigo 42 da distribuição de itens em filas, o primeiro a receber é sempre o da ponta. Seguindo essa regra, a senhora, após alguns micro segundos de reflexão humana, iniciou o movimento de transferência dessa bandeja para a minha pessoa. E eu alegremente compactuei com tal crime, e estendi os braços. Contudo, e inesperadamente, a hospedeira ficou arreliada. Nesse momento, parei para refletir, e consultei a minha enciclopédia da National Geographic sobre comportamentos femininos. Tenho a certeza que consultei milhares de páginas várias vezes e não encontrei nada. Que mal fizera senhores? Aceitam-se apostas... Terá sido uma falha no sistema de controlo de menstruação? Terá a refeição sido preparada especialmente para aquela senhora? Estaria a violar a minha nutrição condicional? Vou dar um tempinho enquanto pensam...
E então? Já adivinharam?
Bom, quando ela exclamou de forma vil e autoritária "é para a senhora!", percebi logo. Tratava-se pois da violação do primeiro artigo da constituição do cavalheirismo, que dita que as senhoras devem ser sempre servidas em primeiro lugar. É óbvio que depois, ela obrigou a desgraçada da senhora a entrar numa prova de ginástica a fim de entregar o tabuleiro que me estava destinado.
Ora, tendo em conta que o cavalheirismo não é algo adquirido nem obrigatório, mas simplesmente uma simpatia opcional, esta situação pôs-me a pensar sr. diário: com que raio de animal estaria eu a lidar? Uma combatente revolucionária do feminismo? Ou uma mulher educada numa família monárquica de cavalheiros?
A segunda opção não é de certeza, porque se discriminasse um nobre daquela maneira era logo recambiada para a cozinha do palácio ou para a sacristia da igreja! A primeira opção implica a abolição do cavalheirismo, a fim dos direitos entre homens e mulheres passarem a ser os mesmos (neste momento, se é leitora, terá levado os dedos ao queixo...). Portanto, o raio da mulher seria o quê? Ao analisar cuidadosamente os seus pensamentos tive uma visão: ela gostaria de ver todos os vis portadores de pénis num campo de concentração, a serem chicoteados e obrigados a tricotar camisolas de natal! E percebi que se tratava de um novo movimento revolucionário: o femiscismo. Feminismo e fascismo num só, ou seja, espalhar ideias da superioridade do género feminino da forma mais pacífica possível! E o leitor, já se deparou com tais criaturas?
Sem comentários:
Enviar um comentário